O Vòdún Lẹ́gbàá na África, por Pierre Fátúnbí Verger

23/11/2023
Estátua do Vòdún Lẹ́gbàá em Uidá no Benim
Estátua do Vòdún Lẹ́gbàá em Uidá no Benim

Entre os fon do ex-Daomé, Èṣù-Ẹlẹ́gbára tem o nome de Lẹ́gbàá. Ele é representado por um montículo de terra em forma de um homem acocorado, ornado com um falo de tamanho respeitável. Esse detalhe deu motivo a observações escandalizadas, ou divertidas, de numerosos viajantes antigos e fizeram-no passar, erradamente, pelo deus da fornicação. Esse falo ereto nada mais é do que a afirmação de seu caráter truculento, atrevido e sem-vergonha e de seu desejo de chocar o decoro.

Os Lẹ́gbàá, guardiães dos templos de Hevioso, vodun do trovão, e de Sapata, Vodun equivalente a Ṣànpọ̀nná dos iorubás, manifestam-se através de Lẹ́gbàásí, equivalentes a Olúpọ̀na, durante as cerimônias celebradas para esse vodun. Os Lẹ́gbàásí vestem-se com uma saia de ráfia tinturada de roxo e usam a tiracolo inúmeros colares de búzios. Debaixo da sua saia trazem, disfarçado, um volumoso falo de madeira que levantam, de vez em quando, com mímicas eróticas. Além disso, têm na mão uma espécie de espanta moscas, roxo, semelhante a um espanador, no qual está escondido um bastão em forma de falo, que eles agitam, de maneira engraçada, na cara das pessoas presentes, particularmente sob o nariz dos turistas, pois os Lẹ́gbàásí não deixam de observar seus sentimentos ambivalentes diante dessas exibições.


*VERGER, P. F. Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. São Paulo: Editora Corrupio Comércio Ltda, 1981.

*Correção do Yorùbá, Hérick Lechinski.